junho 30, 2007

Quando eu tinha 16

Quando eu tinha 16 anos acreditava que viveria até os 80. Cabelos brancos, uma linda cadeira de vime almofadada e a vaidade que minha vitalidade já não poderia mais sustentar; confusa entre segurar nas trêmulas mãos o espelho ou os grampos que prenderiam minhas ralas cãs. Hoje tudo se projeta ao avesso. Também imaginei netos alegres e gritantes ao redor de mim, transbordantes da felicidade que só as avós, que tudo permitem aos pequenos demoninhos, podem proporcionar. Mas isso pensei já aos 22, quando finalmente me dei conta de que todo o fastio e saco-cheio que me ocupavam não me permitiriam passar dos 40. Como era de se esperar, não demorou para que toda essa névoa de utopia se desfizesse em simples velinhas de 25. AH! O peso dos 25. Que realização! Que sentimento de completo... fracasso diante de tudo que havia passado pelas linhas objetivas da minha existência. Na infância, planejei ser bancária, modelo, prostituta e até mãe. A maturidade! Nada como a inevitável maturidade — aos que sobrevivem — para fazer desmoronar todos os planos, sonhos e orgasmos da juventude! Tudo se torna mais difícil depois dos 18 e pior ainda depois dos 25. Difícil?! Não sei se seria esse o termo apropriado. Talvez mais claro. Sim. Mais claro. A juventude colore demais as coisas. A velhice devolve os tons de cinza ao seu devido lugar. À escuridão o que a ela pertence. E a escuridão tornou-se mais definida à medida que as velinhas dos bolos de aniversário eram assopradas, à medida que os presentes eram abertos e me surpreendiam — diários, livros, lingeries, maquiagem, tupperwares, cremes anti-idade, fitas de auto-ajuda, papagaio “para fazer companhia”, convites para “spas” de luxo — que acabariam com todo o orçamento, apesar do conforto, mas afinal, eu não teria mais tempo de vida útil para gastar meu dinheiro —, agulhas de crochê banhadas em prata, chinelos de pelo, uma visita caridosa em uma tarde de domingo qualquer. Tudo isso regado com a melhor das intenções. Quem dá ao solitário, empresta a Deus. O grande pai que a seus arcaicos e subdesenvolvidos filhos presenteia com a velhice, a fraqueza e o abandono.

Meus netos passaram por mim como o vento, meus filhos... enterrei a todos. Companheiros tive muitos, mas poucos fizeram guarida no meu coração. Hoje, da cadeira de vime almofadada avisto o mar pela janela do meu quarto. O mar!. Quem pode saber se um nascimento difere de um enterro na linha do tempo. São apenas comemorações da existência, caprichosa e tênue. Desde sempre.

Lele Queiroz

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