setembro 05, 2007

Esquizofrenia

Recentemente descobriu-se que a esquizofrenia foi beneficiada pela evolução. Traduzindo: o gene responsável pelo distúrbio psicótico que causa a doença desenvolveu-se no genoma humano, ao invés de ter sido combatido e erradicado como aconteceu com tantos outros, responsáveis por tantas outras disfunções cerebrais ao longo da história evolutiva.

Os sintomas da esquizofrenia são muito semelhantes às características de comportamento dos fanáticos religiosos. Não é surpresa pra ninguém que tal comportamento seja impulsionado por um distúrbio psicótico. Crer em idéias irracionais, imaginar-se alvo de perseguição ou acreditar-se deus; sofrer alucinações sensoriais, proferir discursos e pensamentos desorganizados... ter o comportamento alterado e encontrar-se incapaz de ajustá-lo ao ambiente.

Quando pensamos, no entanto, que a esquizofrenia de fato acompanhou a evolução, dúvidas maiores vêm à tona. Seria a esquizofrenia algo mais do que uma simples psicose? Por que a maioria dos esquizofrenicos tende a voltar-se à religião... ou à arte? Teria a esquizofrenia sido o fator que levou o homem a inventar deus? Ou ainda mais dramático: seria a esquizofrenia responsável pela evolução humana, por termos chegado onde chegamos, por termos nos diferenciado do resto dos hominídeos e, até mesmo, do resto do reino animal? E, finalmente, seria a humanidade a simples transcrição de um distúrbio psicótico?

Se seguirmos tal linha de raciocínio, nos encontraremos obrigados a creditar à esquizofrenia manifestações exclusivas do cérebro racional, como arte, amor, ciência. Partindo desse ponto de vista, não seria incorreto assumir que os sintomas da doença em questão nada mais são do que manifestações do cérebro em evolução e, radicalizando um pouco mais, que quanto mais evoluído o cérebro, mais psicoticamente ele se comportará, considerando que a doença historicamente só evoluiu.

Agora, se eliminarmos completamente todas as algemas da ciência, seria plausível dizer também que manifestações cerebrais consideradas psicóticas poderiam se tratar de novos recursos de cérebros evoluídos, aos quais nosso nível de consciência corrente ainda não está adaptado, tornando sua compreensão uma tarefa impossível.

Vamos pensar sobre a telepatia. E vamos, então, associa-la a todos os sintomas conhecidos da esquizofrenia. Eureka! Milhares de cérebros se comunicando minuto a minuto sem que nenhum deles esteja consciente de tal comunicação. Alucinações sensoriais, memórias de eventos que nunca ocorreram... com o indivíduo que alucina. Obviamente, credita-se tudo a deus. Ou ao diabo. Bom...

Sem as algemas da ciência podemos ir ainda mais longe.

Morte.

Após esta longa e irrequieta reflexão sobre minha própria condição imagino se a morte não seria realmente o que pregam as religiões ao redor do globo: a simples falência da carne. O que sugere que a consciência pode perfeitamente continuar viva, vagando à procura de um cérebro psicótico para aninhar-se, pulando de um para outro, dando a estes desavisados indivíduos a vantagem de alucinarem, carregando quantidades infindas de informação valiosa, preciosa, enquanto se debatem em suas macas, atados por suas camisas de força.

setembro 01, 2007

Trust


Foto: Eric Brotherhood



Pra Baixada


Lá na minha terra
De trem pro subúrbio
Vítimas em jardas
O tempo todo todo o tempo

Sem parar
Nos trilhos da memória de Deus
O homem continua tentando
Ir levando

Ver beleza no asfalto barreado
Muito longe lá de baixo
Do mar maravilha
Do alcance do Redentor

Meu povo escuro
Suado
Cansado
Feliz

Basta o teto e o pão
E a nêga pra esquentar o coração


Belford Roxo, RJ - Foto: Valter Campanato/ABr

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Dedicado às vítimas do acidente com o trem da Central em 30/08/2007, em Nova Iguaçú, RJ