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a vida vai se desenhando
em uma arte sem cor
cheia de traços truncados
e geometrias caducas
que se revelam lentamente sobre
esperanças decadentes
pra um punhado patético
de espectadores solitários
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> Unknown > 1:25:00 PM
tanto envolvimento com a solidão
a gente vai acostumando
se acomodando
esquecendo de como era antes
quando os amigos estavam por perto
presentes
vivos
parece até que a consciência vai cedendo
começa a enganar
e a gente passa a acreditar que sempre foi assim
vazio
só
e que não tem remédio a não ser se conformar
e no desespero apelar pros extremos
ceder à própria crueldade
e se assistir afundar lentamente
em lodo e insônia
incapaz de lembrar da sensação de sorrir
agarrado à necessidade de culpar o outro
pra não admitir a própria inércia
que gera esse aperto no peito
e aos pouquinhos vai sufocando
silenciosamente
até que o coração
ressentido e pequeno
pare definitivamente de bater
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> Unknown > 10:51:00 PM
Durante esses dois anos e cacetada eu procurei não me empolgar demais com as campanhas eleitorais dos Estados Unidos. Sabe como é, pra não alimentar esperanças falsas. Ainda mais considerando a cena política da época e os dirigentes no poder. Como o mundo dá voltas...
Devo confessar que, sendo brasileiros, a opinião que se têm sobre os Estados Unidos é a de que se trata de um país medíocre e mesquinho, habitado por pessoas burras, gordas e egoístas, com percepções muito limitadas e sem nenhuma empatia. Well, que tapa na cara do brasileiro!
BARACK OBAMA 2008!
A visão descrita acima não poderia ser mais ridícula. É claro que acompanhar a campanha eleitoral de John McCain não foi fácil, ouvir toda aquela baboseira, então... Ainda mais depois da chegada da versão feminina de George W., Sarah Palin. Os republicanos descolam cada coisa!... Só mandando importar do Alasca mesmo pra se ter acesso a esse tipo de mercadoria bichada. E que línguazinha ferina a mulherzinha tem, hein? À sua maneira mesmo, acaipirada, grotesca e provinciana, ela conseguiu desestabilizar até a fé republicana do mais tradicional dos americanos. No final das contas, nem judeu na Flórida estava mais do lado do GOP*. E não é que McCain sacou logo de cara e de cara logo se arrependeu de ter se metido nessa enrascada! Mas aí já era pra lá de tarde.
Por outro lado, essa presepada do partido-elefante teve suas vantagens. Serviu pra os terráqueos desinformatas se darem conta de que só ouvir falar não é suficiente, é preciso ver pra saber. É isso mesmo. É preciso tirar a bunda do conforto da cadeira do boteco e botar o pé na estrada, com a mala e as cuias todas e ir ver ao vivo do que se trata a parada, do que se trata a tal da chamada América.
Isso já abre espaço pra mais uma discussão. América. Continente e país. É. País. Mas falar em egocentrismo é tacada muito fora da bola. Cadê os bois europeus pra se dar nomes nessas horas? A tal América foi assim chamada pelos colonizadores, que queriam aqui se estabelecer, quero dizer, viver em paz, fugir das perseguições das tantas coroas do velho continente. O país América foi o sonho dos europeus fudidos, mal-pagos e muito cansados de tanta falta de futuro, de vida e alegria. Um sonho que não demorou nadinha pra se espalhar pelos quatro cantos do planeta, pra ser sonhado na China, na Polônia, no Gana e no México. A América depressinha se tornou a terra das oportunidades, da esperança, da segunda chance. A terra onde todos os povos se encontram e se tornam um, unidade, nação. E que seja. E assim permaneça.
Mas a América não é sonho pra qualquer um, não. Tem que ter o coração aberto, grande, espaçoso. Tem que se esvaziar dos pré-conceitos e estar disposto a olhar pro próximo e não esperar se ver nele, mas apenas enxergar a ele. A América não é país pra quem só tem um ponto de vista, pra quem não abre mão, nem pra quem não é capaz de formular um pensamento auto-crítico. A América é terra pra quem está disposto a olhar pra si e ver multifaces, multicores, multimundos. Quem olha pra este país imenso e só enxerga guerra, desprezo e destruição tá olhando pro lugar errado. Deveria estar olhando para outros continentes, e com os olhos da História, da velha e longa História. Mas, acho que já falei demais sobre isso. Que se venha ver, descobrir, CONHECER, fazer contato direto sem interferência, sem interpretação de terceiros, sem a síndrome do cabra desinformado que corre sempre pra fofoca, gênero "informativo" dos super-cultos educados por tradutores. Chega de disse-me-disse, de fato comprovado pela irmã do cunhado do papagaio do vizinho, de orelha de boteco.
Então, ouçam todos aqueles que querem a verdade:
Algo muito grande acaba de acontecer na América. Algo digno do sonho de Martin Luther King. Algo que esse povo forte, corajoso e cansado, que surpreende outra vez ao superar seus conceitos enrijecidos e abraçar o futuro incerto, acaba de realizar. Um homem negro, filho de africano, nascido no Hawaii, de nome árabe... eleito à presidência de um país racista com maioria de votos, batendo um militar branco tradicionalista, em plena época de guerra... me faz ter esperanças. É isso mesmo. Minha fé, há muito perdida, na humanidade volta a dar as caras. Volto a crer que o ser humano pode ser mais que um câncer para este planeta e para si mesmo. E volto a crer na América. Nas Américas. Em todas elas. No sonho original do imigrante. No fantástico poder que têm todos os povos deste continente. E espero que Obama sirva pra mostrar a todos os povos americanos que NÓS PODEMOS.
> Unknown > 7:41:00 PM
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you are dead
I thought I would love you forever
I thought you would love me
always
and you hurt me
you hurt me bad, and deep
and didn't even care
you believed I deserved it
maybe so
it's just that sometimes you can be really cruel
and not give a damn
you are dead
dead to me
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> Unknown > 10:50:00 AM
Proteja a torre
Multiplique as rainhas
Monte o cavalo
O rei permanece estático
Na guarda do bispo
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> Unknown > 10:47:00 AM
me interessa
o que pessoas sentem,
o que as faz
largarem armaduras
e máscaras
e dançarem
nuas
em frente a paredões
de fuzilamento.
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> Unknown > 11:42:00 PM
Eu observo pela tela
E espero entender
Por que agora?
Por que você não disse nada antes
Por que nunca disse que me amava
Quando eu precisava ouvir
Quando tudo o que eu precisava saber
Era do seu amor
Na era em que a solidão
Se fazia de minha melhor amiga
E me arrastava pra sempre
Pra dentro do universo vazio
> Unknown > 8:52:00 PM
Amélia era uma moça faceira, alegre, entusiasmada, sempre de posse de algo bom a dizer de todos, sempre de bom humor e cheia de positividade. Pode-se dizer que Amélia era uma moça cheia de vida, de uma vida promissora.
Mas a vida de Amélia dava sinais de mudança, sinais sutis de mudanças drásticas. Amélia começou a ter insônia.
Ela não conseguia dormir, já pelas tantas da madrugada seu cérebro ainda remoia rancores, raivas, arrependimentos e culpas tantas que foi obrigada a se levantar e tentar algo mais além de descansar.
Enquanto descia as escadas acarpetadas pode ouvir os sprinklers banhando o jardim da frente. Pensava turbilhosamente na morte que se anunciava. A sua própria. Pensava nos queridos entes que deixaria pra trás, inconformados e impotentes. Pensava também naqueles que aprendeu a odiar, graças aos esforços incansáveis destes mesmos em lhe dar motivos para tal. Amélia não conseguia perdoá-los. Jamais conseguiria. E ela sabia disso tão bem que lhe doía o corpo. Mas o pior de tudo é que Amélia sabia que jamais conseguiria perdoar a si mesma. Era tanta raiva que sentia e de tanta gente que ela sufocava só de pensar a respeito. Sua percepção já estava tão surtada, seus sentidos tão sobrecarregados que tudo o que ela esperava era poder dormir e esquecer de tudo ao amanhecer. Mas ela não conseguia dormir.
Insone, Amélia tentava fazer sentido de tudo em sua cabeça confusa. Paranóica e assustada, imaginava o que aconteceria se algo inusitado acontecesse, algo surpreendente e avassalador. Ela imaginava o que a faria surtar de vez.
Amélia lavava, passava, cozinhava, ia ao mercado, pagava as contas, ouvia os curtos monólogos do marido sobre o trabalho ou sobre os pais dele ou sobre a insana política local que fazia sua própria esquizofrenia parecer brincadeira de criança.
A faceira jovem tinha seus dias fartos, cheios, ocupados. De dar inveja às madames de vidas vazias que habitavam as vizinhanças mais abastadas. Mas Amélia era entediada, estava entediada, havia ficado entediada. Não sabia ao certo e não sabia tão pouco quando tal moléstia lhe havia acometido. E pra piorar, a dor de estômago que não lhe largava. Talvez fosse melhor assim, pensava. Algo pra lhe fazer sentir viva. Se ao menos doesse um pouco menos. Ou um pouco mais. O suficiente pra lhe passar batido ou pra lhe matar. Nada é perfeito. E tinha também aquela meia-dormência no seu lado direito. Que raio era aquilo não sabia, imaginava, mas ao certo não sabia, como tudo em sua vida. Nada sabia ao certo.
Indagava se as coisas seriam diferentes se ela tivesse botado a boca no trombone, deixado sair tudo o que a sufocava. Não. Ela disse até demais, considerou até demais, deu chances até demais. E isso a adoeceu. E ela sabia disso, mas negava. A si mesma Amélia mentia descaradamente dia após dia, comprimido após comprimido. E culpando a genética ela seguia.
O tempo é relativo. Apegada a moribundas memórias científicas, Amélia passou a observar o tempo, em sua forma mais relativa. Amélia passou a fitar o tempo alheio. O tempo de cada vizinho desapercebido de seu espaço e movimento. Amélia os observava viver, desperdiçar seu anos em toda a sorte de efemeridades, nutrindo-se de ilusões pra justificar sua sequência vital. Alheios à evolução de sua estupidez e do vácuo existencial que os digere lentamente. Quanta variedade de tempo! Pensou.
Ela só queria que as vozes em sua cabeça se calassem e a deixassem dormir. Mas as vozes insistiam, mudavam de assunto, voltavam ao assunto anterior sem pedir licença, aumentavam o volume, faziam replay. As vozes a mantinham acordada. Sempre. As vozes também a faziam querer fazer coisas das quais estava certa de que se arrepederia, mas ainda assim sentia um mórbido alívio em pensar sobre elas. E pensando em uma dessas coisas Amélia avistou um vizinho desavizado. Um moço, até onde se sabia, bom, honesto. Um desses que a polícia chama de inocente quando dá entrevista sobre o crime mencionando a vítima. Uma dessas presas disponíveis para caça.
Antes de estrangulá-lo, Amélia pensou sobre sua formação religiosa, sobre os domingos passados na igreja com a familia, décadas atrás. Ela tentou até cantarolar uma das canções que aprendeu quando criança, mas a relatividade do tempo também tem seus limites e a sua memória não guardara nem um único verso musical de som sacro-santo. Ao invés, ela libertou as vozes em sua cabeça e por alguns instantes deixou que discursassem em alto e bom som. Tão alto que ela nem mesmo chegou a ouvir os gritos de súplica de sua presa inocente. Tão alto que ela fechou os olhos pra que sua cabeça não martelasse tanto. Tão alto que suas mãos se travaram em um arco fatal ao redor da garganta do vizinho anônimo.
E depois de um espaço de tempo relativo, Amélia abriu os olhos e o policial que lhe encarava, rodeado de luzes vermelhas e azuis piscantes, lhe perguntava atônito "Por que?" e Amélia, com sua doçura costumeira respondeu quase que catatonicamente:
"Eu me senti tão entediada hoje...!"
> Unknown > 1:17:00 AM
cansada
exausta
estafada
pronta
chamando para proxima fase
a vida se da continuidade
novos personagens
contrata-se
> Unknown > 11:57:00 PM
Estive debatendo na net sobre a legitimidade moral da pesquisa com células-tronco. Não é segredo pra ninguém a minha linguazinha ferina e o meu sedento desejo por uma boa e longa discussão, daquelas que leva todos à loucura, que faz as pessoas levantarem da mesa e andarem pela famigerada cozinha (sempre o melhor palco para tais eventos), em busca de mais uma lata de cerveja pra refrescar as idéias.
Em termos gerais, é sempre bom engajar discussões produtivas e se permitir ser transformado por elas. Fico honestamente extasiada toda vez que me deparo com um ponto de vista completamente novo, com uma perspectiva jamais imaginada pelo meu cabeção em conflito. Me deixo levar com gratidão pelas divagações geradas nessas cozinhas da vida, onde alimento a alma com o exercício do cérebro. Ah! Que prazer estar viva!... Mas, infelizmente, e era de se esperar, nem todas as cozinhas têm fartura de idéias.
De todos os temas de que se pode falar a respeito, a ciência é o que mais me atrai. Nunca parei pra pensar no porque, mas talvez seja por não haver limites ou barreiras para tal assunto. Tudo pode ser argumentado com base científica, ainda que nem tudo possa ser explicado. Well, que seja. Afinal de contas não há nada mais chato do que ter certeza de tudo, nada mais frustrante do que não duvidar, não desconfiar, não discordar e não tentar compreender tudo outra vez, do começo.
A ciência é tão versátil que explica até mesmo os mitos e a necessidade dos sapiens-sapiens em criá-los. A nossa suculenta ciência explica inclusive a necessidade dos sapiens-sapiens em tomá-los de forma literal. Ainda bem porque as vezes é dificil pacas compreender determinados indivíduos e suas razões. Ou percepções. Ou falta delas. Ou se Deus existe e é perfeito então por que ele criou gente tão estúpida? "Cala a boca, Joãozinho, e presta atenção no sermão do pastor." To prestando, mãe!...
Resquícios esquizofrênicos.
Voltemos à cozinha. Hoje preparamos um delicioso ensopado de célula-tronco. A célula-tronco, como vocês sabem (ou pelo menos deveriam saber), é um ingrediente muito versátil que pode substituir qualquer ingrediente em qualquer prato. A célula-tronco é um milagre que os seres inteligentes desenvolvidos neste planeta descobriram graças a anos de trabalho e pesquisa ininterruptos. E patrocinios de governos e instituições, infelizmente, compostos por seres nem tão inteligentes e de paladar oleosamente duvidoso.
Vamos à ciência... da discórdia.
A religião vem ao longo da história da humanidade impedindo o progresso não só da ciência como um todo, mas também de setores específicos, como é o caso da medicina. Século após século, líderes religiosos criam discussões retrógradas para desviar a atenção da sociedade da legitimidade da evolução das espécies, utilizando a Bíblia/Koran/Tora como base de seu argumento, cada vez mais insustentável, de que a teoria de Darwin (ou qualquer outra evolutiva) não passa de ficção. Eu sei, eu sei... soa como piada, mas não é. Mitos milenares são aceitos como verdade absoluta, um conceito por si só retrógrado, numa tentativa de mascarar, primeiro, a fragilidade das instituições religiosas como símbolo de poder e, finalmente, sua certa derrocada. Como manter fiéis crendo na teoria edéica quando cientistas acabam de comprovar que pássaros carregam em seu DNA a informação genética para o desenvolvimento de dentes e longas caudas? A algumas proteínas de distância estão os pássaros modernos dos dinossauros.
Peço perdão aos cristãos (judeus, muçulmanos...), mas o meu cérebro de primata não compreende como a idéia de que um ser supremo, habitante do espaço sideral (?), utilizando de um punhadinho de barro, uma baforada e uma costela para criar a humanidade seja mais plausível do que a idéia de que a nossa genética é inteligente e capaz de evoluir de uma espécie para outra. Ainda mais quando os traços da nossa evolução através das espécies estão gravados no nosso DNA e podem ser facilmente provados, comprovados e retraçados, com um simples telescópio e uma reles manipulação de proteínas.
Para aliviar a tensão, vou abandonar a ciência brevemente e focar em fontes de informação menos complicadas, se é esse o caso. Grupos sociais. Se não é que desde o antigo Egito a religião desencadeia guerras, colonizações, genocídios (perdoe a redundância) e tantas outras merdas elevadas à máxima potência da capacidade de embecilização humana. Profetas de Amon, adoradores de Aton... e eis Akhen Aton assassinado, Nefertiti desaparecida, Tut Ankh Amon sacrificado. E eis os mesmos modelos religiosos da Antiguidade adaptados e rebatizados. E eis Cristo crucificado.
A busca desesperada do homem por salvação é o que o vai condenar.
Só pra binladear um pouco o clima, J I H A D ! Saúde!
(Não, não. Não vou entrar na questão dos impérios da atualidade. Esse é tema pra uma dissertação futura. Já a preparo há alguns anos. Ainda me falta certa incrementação do banco de dados para tal, sendo este de natureza mais amorfa, conflitiva, menos linear em sua ciência. Algumas outras viagens são necessárias para dar vida a este raciocínio, algumas outras saidas de mim e voltas pelo planeta.)
O ensopado está cozido. As células estão servidas. Mas não confunda cú com bunda. O indivíduo se caracteriza pelo todo. Não se pode ter um coquetel de desmembramento e considerá-lo como indivíduo. Assim como não se pode considerar um bando de células em fase de pré-formação orgânica como um indivíduo vivo. Nos afogaremos na poça da estupidez se o fizermos.
A formação do organismo é o que define o princípio da vida. De outra forma, da vida de quem estaríamos falando? Da célula? (OH! Meu deus! Cometemos homicídio todos os dias quando exfoliamos o rosto para nos livrar das células já com o pé na cova. Eutanásia!) Um bolo não é um bolo até que todos os ingredientes sejam integrados por um processo de cozimento lento. Sem tal integração, podemos combinar os ingredientes através de diversos processos e formas diferentes e, a partir daí, criar algo novo e distinto da idéia original de bolo. Um rocambole talvez, que é um bolo em essência, mas moldado para ser algo diferente, talvez com menos ovos e mais frutas cristalizadas, enrolado em uma calda de cassis e polvilhado com coco ralado. Lhe apetece? Huuummmm!
Comam, famintos por respostas. Lambuzem-se em suas dúvidas infindas. Elas os mantém vivos.
Acabou a festa. Hora de fechar a cozinha e degustar uma taça de vinho branco barato enquanto amplio o banco de dados daquele outro assunto.
> Unknown > 3:32:00 PM
as belezas que o suicida e mais ninguém vê
quando chega a hora de colocar o ponto final
na estória
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> Unknown > 1:53:00 PM
ferido cansado divagante espectro
sob o céu cerrado em portas notredâmicas
obcecado com terrores passados
eis o clone que sorrindo morre
a liberdade é um sonho
confusa consciência contempla
imagem de crânios empilhados no abismo
medíocres filicidas auto-santificados
em nome do amor do bem e da verdade
órfão dragão da maldade tombado
justificam sua morte pelo sangue de outra vitima
seus irmãos armados de línguas afiadas
conheceremos a verdade
e ela nos enterrará quando acordarmos
> Unknown > 3:45:00 PM
jhasdn
jde
iehfround
fas
noer
monetr
kink
jung
fralisck
______
> Unknown > 4:37:00 PM
O medo da não-Existência se propagou como peido dentro de um vagão de metrô às 6 da tarde. Distinguir de que existência se tratava tornou-se mais trabalhoso do que simplesmente ter o medo.
A probabilidade de mais uma lacuna no tronco da árvore genealógica era grande, tanto que ao deparar-se com ela a certeza mais provável era a da perda. Outra dor, mais uma partida, todas aquelas culpas de novo. Era preciso convencer a si mesmo de que tudo que podia ter sido feito havia sido feito e de que estar mais próximo ou mais envolvido não teria evitado a tragédia, exatamente por ela ser inevitável. Tantas decisões a tomar, escolhas a fazer!... E rápido. É o tipo de situação em que não se pode perder tempo. Mas o tempo parecia estar parado, suspenso naquela névoa de incerteza e apreensão. Ou então era o próprio corpo que estava. No entanto, de repente, por um milésimo de segundo que pareceu durar um século, tudo ficou esclarecido, tudo estava resolvido, não havia com o que se preocupar, tudo daria certo. Até que o toque do telefone invadindo a madrugada recindiu toda a resignação alimentada pela paisagem muda da tv.
...
Na sala do portão de embarque os ouvidos foram bombardeados com comentários vazios e críticas ocas sobre a cultura alheia. Reclamações fora de hora e lamentações sem propósito tinham o dom de enlouquecer a pouca sanidade que lhe restava. Tudo o que podia almejar era estar em um grupo mais privilegiado e embarcar rapidamente. Mas o último grupo era tudo o que se podia esperar. "Melhor fingir que não estou aqui, que eles não estão aqui, que a humanidade evaporou."
Finalmente, após acomodar-se no assento devido, a descoberta mais recente voltou a atiçar o desejo de não ser, de deixar de ser. Tantas velhinhas transitando pelo minúsculo espaço entre suas pernas e a cadeira da frente começou a parecer provação demais. Até o encosto da cadeira da frente ser baixado e a tardia velhinha que ainda rumava pela improvável passagem cair sentada em seu colo. Ah! Se a velhinha pudesse ouvir pensamentos...
...
A viagem não foi tão ruim, a julgar pelo desconforto oferecido pelo assento. Os poucos momentos agradáveis se deram graças ao simpático jamaicano com quem trocou palavras durante o percurso, em um inglês que vagava pela Terra do Nunca. A beira da total incompreensão, povos distintos perdem carapaças e preconceitos quando a curiosidade aflora em uma primavera de surpresas excitantes. Ah! Se os truques da mente tivessem jurisdição mais ampla... se pudessem eliminar os rastros de pensamentos obtusos ao tocar dos sinos da vontade!...
...
O aterrissar como um saco de batatas caído no solo interrompeu a tão merecida soneca. A chuva destruiu a capacidade de concentração na paisagem de concreto. O stress desintegrou a coragem característica. E o medo foi relembrado e voltou a ser sentido. Anos atrás o mesmo medo havia descolorido temporariamente um entardecer qualquer de um domingo sulista e pra sempre o horizonte de sua vida. Se ao menos a genética auto-desintegrasse e a memória entrasse em estado de soluço crônico e irreversível...
...
O que impelia o movimento desenfreado das pernas rumo ao antigo predinho era, de certo, o pensamento de que ao abrir da porta todas as esperanças seriam extintas. Ao invés, o som do trinco sendo puxado foi abafado pela luz daquele rosto conhecido, amigo, maternal. Somente o abraço sub-sequente poderia trazer mais alívio e conforto do que o sorriso que o precedeu.
A julgar pela voz repreensiva e crítica era seguro dizer que a genética insana havia marcado mais um ponto no jogo da vida. Sem mais delongas, o desentendimento intrínseco daquele núcleo familiar despertou. E faminto. Um amontoado de frases ferinas em destaque na arena das mágoas tardias voltou a reavivar a memória e a aquecer convictamente o sucessor interino do medo, a raiva.
Instantaneamente o famigerado álcoolismo tornou-se não só justificável e, sim, imprescindível. Mas não sem antes se render à boa e velha xícara do café tintoso e infindamente amargo, à mesa, ao som das estórias que a memória esculpe como pode, sem precisão ou piedade, pelo extenso momento que teima em se distrair com a idéia de se adiantar o vôo de volta pra casa.
> Unknown > 3:06:00 PM